terça-feira, 18 de setembro de 2018

Casos de Distúrbio de Diferenciação Sexual Dobram entre 2007 e 2016

Especialista alerta que os portadores dessa característica sofrem preconceito e discriminação

O número de nascimentos de pessoas que não se encaixam nas definições tradicionais de “sexo masculino” ou “sexo feminino” dobrou nos últimos 10 anos no Brasil. Os casos passaram de 275 em 2007 para 534 em 2016 e, apesar do aumento, especialistas afirmam que ainda é um assunto pouco discutido e, como consequência, os portadores dessa característica sofrem preconceito e discriminação.
A endocrinopediatra Renata Santarém, do Hospital Universitário de Brasília (HUB), afirma que os termos hermafroditismo e intersexo caíram em desuso. O mais utilizado pela comunidade médica, segundo ela, é distúrbio de diferenciação sexual. Essas pessoas nascem com uma alteração congênita de ambiguidade genital em que não pode determinar o sexo biológico da criança. Segundo Renata, nesse caso, a orientação é não registrar. A criança recebe um relatório médico que possibilita que ela possa realizar procedimentos com plano de saúde sem o documento.“A criança tem que ser levada para um centro multidisciplinar. Em países de primeiro mundo, dá para fazer o diagnóstico ainda no pré-natal. Aqui, é feito na sala de parto e cabe ao profissional avaliar a criança. Nessa condição, elas podem nascer com um micropênis, o menino pode nascer sem os testículos, a menina pode ter o clítoris com crescimento anormal, mas são critérios muito técnicos e vão de caso a caso”, explica.O HUB é um centro de referência em distúrbio de diferenciação sexual que recebe casos de crianças e adolescentes com ambiguidade genital. Uma equipe formada por geneticista, endocrinopediatra, cirurgião pediatra, psiquiatra e psicólogo endossa o time que tem por objetivo ajudar e orientar a família no momento da descoberta. “Explicamos para a família que se trata de uma má formação e que há exames que ajudam a identificar o sexo genético do bebê. Dependendo da etiologia, há exames genéticos, hormonais, de imagem e biópsia”.

HormôniosA endocrinopediatra ressalta que as causas que levam à ambiguidade sexual são variadas, podendo ser hormonal, genética ou ainda de má formação e, por conta disso, pode ter o diagnóstico facilitado ou dificultado. “Também tem que se pensar em termos de fertilidade e potência sexual. Dependendo do caso, existe a indicação de reconstrução genital ainda no início da infância quando o exame genético e o hormonal batem”, revela.Por outro lado, muito tem sido discutido em relação à cirurgia. “Os cirurgiões têm sido conservadores em casos mais complexos em relação a cirurgia e geralmente se espera até que o paciente atinja a adolescência ou até que possa verbalizar sua vontade. Também se respeita a opinião da família. Caso a caso.”

Discriminação em vários momentosMoradora de Curitiba, a terapeuta ocupacional Dionne Freitas, 28 anos, nasceu com órgãos genitais de menino, mas aos 13 anos, ao perceber que não nasciam pelos, procurou um médico para realizar a reposição hormonal. Foi aí que descobriu que tinha Síndrome de Klinefelter, que tem por característica baixos níveis de testosterona e massa muscular, e pêelos corporais reduzidos. Por causa da presença de um X a mais na genética sexual, é caracterizada como XXY.“Tenho mais de uma linhagem genética, nasci com genital masculina, fui criado como menino, mas sempre me enxerguei como uma menina. Passei por discriminação na escola, na igreja, por agressões. Não me identificava como menino e, na adolescência, não apresentava nenhum sinal. Fiz o exame que apontou que eu tinha genes de homem, de mulher e os dois ao mesmo tempo. É um mosaico”, explica.Ela realizou a cirurgia de mudança de sexo aos 20 anos e hoje luta para que as crianças tenham autonomia para escolher como se sentem em relação ao gênero e que não haja mutilação infantil. Dionne também planeja fundar a Associação Brasileira de Intersexo (Abrai) e lançou uma vaquinha digital para angariar fundos.
A geneticista Maria Teresa Rosa explica que a primeira determinação sexual é genética, definida durante a fecundação. “O gene feminino é o XX e o masculino é o XY. Quando é um embrião, há fatores que contribuem para a diferenciação na parte hormonal ou, ainda, distúrbios nos receptores. Qualquer alteração vai ocasionar um indivíduo com ambiguidade sexual e é uma questão social de definir o sexo da criança, quanto mais tarde, pior para a família e para a criança, por isso, a importância de um trabalho multidisciplinar.”

Fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/brasil/2018/07/01/interna-brasil,692112/casos-de-disturbio-de-diferenciacao-sexual.shtml

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Moda Sensual