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quinta-feira, 31 de janeiro de 2019
Dona de Sex Shop: Já tirei até a calça e mostrei para cliente onde é o clitóris
Talyta Vespa
Da Universa
12/11/2018 04h00
Corta para 2014: economia em recessão, produtos eróticos
em baixa. Maisa Pacheco, dona de um dos sex shops mais tradicionais de
São Paulo, na rua da Consolação, e que leva seu nome, cumpria as 12
horas de trabalho diárias quando, na loja, entrou uma nova cliente: uma
japonesa que acabara de desembarcar no Brasil e pedia um produto que a
estimulasse, já que o marido adorava sexo, mas ela não sentia prazer.
“Sugeri um vibrador clitoriano,
e ela pediu outra sugestão porque ‘não tinha clitóris’. Pensei:
'Impossível'. Peguei uma vagina de plástico, apontei onde ele fica, e,
ela foi incisiva: disse que não tinha. Abaixei minhas calças e abri
minha pepeca. ‘Olha aqui, é isso’, insisti. O “não” com a cabeça veio na
sequência. Perguntei: ‘Posso ver a sua?’. Ela deixou. Abri a vagina e encontrei o bendito clitóris.
Era pequeno, parecia que nunca havia sido estimulado. Ela comprou o
vibrador, e depois me escreveu, contando que tinha aprendido a sentir
prazer”.
Se
dedicar a entender o problema do cliente foi um dos principais motivos
que levaram a empresária a dobrar o lucro de sua loja de 2014 para cá. O
período de crise chegou chegando, trouxe queda nas vendas, só que a
volta por cima não demorou a vir. “Quando apertou, os clientes deixaram
de vir até mim. Eu pensei: ‘Vou ter que me reinventar. E o jeito é ensinar as pessoas a gozar. Assim, vou ganhar dinheiro”, conta a empresária à Universa.
A
reinvenção proposta contou com um treinamento intenso dos funcionários,
foco em redes sociais, percepção das falhas das concorrências e
investimento em tecnologia. “Visitei todos os meus principais
concorrentes, sex shops grandes, bem localizados, cujo público-alvo é
similar ao meu: mulheres de classe média/alta. Sempre que eu saía de uma
loja, anotava tudo o que havia me incomodado como cliente, para que
nada se repetisse no meu espaço. Investi no atendimento, o principal
problema que encontrei em todas elas. Para um sex shop dar
certo, o cliente tem que deixar a timidez na porta e, para isso, os
vendedores devem fazer com que eles se sintam muito à vontade.
Pintos à mostra,
para todos os lados, é a primeira coisa que alguém vê ao entrar na loja
de Maisa. Não foi o que ela encontrou nas concorrentes. “Onde ficam?”,
perguntou ao dono de uma delas. Ouviu que eles estavam escondidos, em
uma salinha, para não constranger os clientes. “Achei um absurdo. É
um sex shop, pô! Se não tiver pinto vai ter o quê? É um erro assumir que
as pessoas que entram devem ficar constrangidas ao buscar vibradores e pênis de borracha. Isso espanta o cliente. Tudo precisa ficar à mostra, para que a gente trate o sexo e o prazer com naturalidade”.
Maisa
é dona do mesmo sex shop desde 1999. De lá para cá, o espaço, situado
no centro da capital paulista, só mudou de nome: era Vênus, se tornou
Delírio e Ponto e, hoje, leva o nome da capitã. As mudanças não foram
implementadas apenas na fachada da casa – um sobrado grande, de 385 m²,
bem na esquina com a Avenida Paulista —, mas também no atendimento das
funcionárias e na disposição dos produtos.
Lá, dá até para
transar. No andar de cima, bem escondidinho de onde ficam expostos os
objetos à venda, os clientes podem tomar uma cerveja e, se bater o
tesão, correr para as cabines.
Existem 12 delas. Em cada
uma, há uma pequena TV com várias opções de filmes pornôs. Para transar
nas cabines é preciso pagar R$ 20 - e pode ficar o tempo que quiser. Com
consumação, que dá direito a duas cervejas, R$ 40. Algumas delas têm
buracos estratégicos, os glory holes. “As pessoas podem transar
sem saber com quem, inserindo o pênis no buraco ou aproximando o ânus. O
público é majoritariamente gay, ou homens que se dizem heterossexuais a
fim de ter experiências discretas. O período mais cheio é o horário do
almoço".
Imagem: Simon Plestenjak/UOL
"Vou para a cama com os clientes"
Maisa
não é sexóloga, nem psicóloga. Ela enfatiza isso sempre que fala sobre
sexo nas redes sociais. “Não ultrapasso meu limite do conhecimento”,
conta. Ainda assim, pela experiência de 25 anos trabalhando com produtos
eróticos, se atreve a falar sobre sexo e relacionamento – e vai, por
assim dizer, para a cama com as clientes e seguidoras.
“Má, meu marido não me chupa direito.
O que eu faço?”. “Mostra esse vídeo para ele!”. O diálogo é recorrente
no Instagram da empresária que, além de sugerir produtinhos que podem
tornar o sexo mais gostoso, também ensina o bê-a-bá. “Uma cliente me
disse que, antes de ir para o banho, pediu que o marido assistisse a
todos os meus vídeos sobre sexo oral. Falei: “Pô, eu tô indo para a cama
com vocês, é isso?”.
No começo dos anos 2000, o sex shop tinha
parceria com um motel da região. O cliente ligava na recepção, pedia os
produtos e Maisa, a própria, ia de moto entregar. “Uma vez, um casal
pediu vários acessórios de sadomasoquismo. Cheguei no quarto e o cara estava peladão.
Na cama, a mulher, amarrada com uma corda, miava, me chamando para
participar. O marido me convidou, mas eu recusei. Na cama, literalmente,
não rola.
Agora, o serviço de motogirl está mais tecnológico,
praticamente um iFood de brinquedos eróticos. Os produtos do sex shop
estão listados em um aplicativo disponível para iOS e Android e, se o
pedido vier de São Paulo, demora menos de uma hora para chegar. Para o
ABC Paulista, segundo Maisa, duas horas, mais ou menos.
Imagem: Simon Plestenjak/UOL
As melhores histórias de um sex shop
Em
2017, Maisa lançou o livro “Os Bastidores do Sex Shop”, onde conta
histórias divertidas, cases de sucesso e bizarrices que envolveram seu
casarão erótico. Uma das mais notórias é o caso de um homem que foi
seguido pela esposa em busca de uma suposta amante. “Percebi que
uma mulher estava parada na minha calçada por um tempão. Perguntei se
ela esperava por alguém e ouvi que sim. Não liguei muito. De repente,
meu cliente saiu e ela fez um escarcéu lá fora: gritou que ele tinha uma
amante e subiu até as cabines atrás de mulher. Só que o cara transava
com uma boneca inflável fazia seis anos. Depois do sexo, ele dava banho
nela, esvaziava e guardava na loja. Comprava lingeries, perfumes,
roupas... Era uma segunda namorada”, conta. A mulher não encontrou a "amante" e tudo ficou bem.
Outra
cliente fiel é uma mulher de 70 e tantos anos que procurou Maisa e
contou que precisava de um orgasmo. “Não quero morrer sem gozar”, ela
disse. “Ela estava desesperada. Contou que se casou três vezes e nunca havia tido um orgasmo. Falei: ‘Então vamos gozar hoje!’. Separei um bullet
para ela – é o vibrador que sempre recomendo para a terceira idade.
Gozou no mesmo dia e me ligou no dia seguinte dizendo que foi a melhor
sensação da vida.
A empresária cuida de um grupo de idosas
periodicamente. Elas se reúnem, e Maisa leva diversos acessórios,
pintões e vibradores. Para cada uma, é indicado um produto diferente.
“Quando as que estão há muito tempo sem transar me procuram, eu não
posso pedir que elas enfiem um pinto enorme de borracha na pepeca de uma
hora para a outra. Por isso, prefiro sugerir vibradores de clitóris e
bullets. Quando, mesmo assim, a mulher quer um acessório para penetrar,
peço que comece com um de tamanho médio e que passe bastante
lubrificante. Cada mulher tem sua particularidade. Uma delas, inclusive,
só consegue dormir se o vibrador estiver enfiado na pepeca. Ela se
tornou minha maior cliente de pilhas”, ri.
Imagem: Simon Plestenjak/UOL
Drink afrodisíaco pra sair no grau "e vender mais"
Às que preferem conhecer pessoalmente os brinquedos antes de comprar, bater papo e passar um tempo na loja, Maisa oferece drinques para dar um grau
e “vender mais”. Uma taça de vinho às mais tímidas e um especial à base
de vodca, pó de guaraná, gotinhas de pimenta e pó de bruxa – o que ela
garante que dá um tesão danado. “É um shot, você vira tudo de uma vez.
Quando desce, já sinto um fogaréu. ‘Será que a menopausa chegou?’,
pergunto para as vendedoras da loja”.
O público masculino, mesmo
sendo menor, também adere ao esquenta pré-balada. De quem não vai
comprar nada na loja, Maisa cobra pelos drinques. “Os homens pedem a
bebida à base de catuaba, guaraná, ginseng e maca peruana. Eles dizem
que é só tomar que o pau já começa a subir”, brinca.
As bebidas de
brinde são servidas às quintas e sextas-feiras a partir das 18h, por
boa vontade da dona, mas por estratégia também: “As clientes bebem,
ficam mais desinibidas e compram mais”, revela.
Pega um vibrador, faz carinho no dog
Vintinho (à esq.) e Zaira no sex shop Imagem: Arquivo PessoalProtetora
de animais, Maisa resgata cachorros de rua em situação de violência ou
abandono. Ela tem sete, dois deles passam o dia no sex shop. Vintinho e
Zaira são velhos conhecidos dos clientes e, mesmo sem que fizessem
parte da estratégia de vendas da loja, ajudam a dona a ganhar dinheiro.
“Tem cliente que chega tímido, vê os dogs e, enquanto faz carinho neles,
já conta quais são as tretas sexuais que o atormentam", conta. “Quando
vi, uni o útil ao agradável. Cuido dos meus bichos e eles ainda
desinibem os clientes”.
O público de Maisa é 80% feminino, coisa
que mudou bastante desde os anos 1990, quando ela inaugurou o Vênus.
“Antes, meu sex shop só tinha VHS pornô e revista de mulher pelada. Eu
só atendia homem. De lá para cá, a mulherada passou a buscar o
autoconhecimento, entender o que a estimula e o que não. Em feriado
prolongado, o que eu mais atendo é mulher montando kitzinho de produtos
eróticos para levar e curtir com o boy. Os caras só se preocupam com a
gasolina, acham que é suficiente”.
"Se o homem transa mal, ele precisa saber"
Maisa explica que a descoberta do próprio corpo é um dos principais fatores que combatem o sexo machista.
“Quando a mulher sabe do que gosta, como gosta, ela passa a não aceitar
trepada meia boca. Foi o que aconteceu com a minha cliente japonesa.
Uma mulher bem resolvida na cama diz para o cara o que quer e, se ele
não estiver comprometido, ela cai fora, pega um vibrador e resolve
situação”.
O lance é bater um papo sincero. “Ensine o cara. Se ele
chupa o clitóris com força, diga a ele que não é um picolé. Não precisa
ter vergonha de falar a verdade, dizer o que está ruim. Pense que você
pode ajudar outra mulher a ter um bom orgasmo. O cara aprende, transa
bem com a outra, que diz para outro cara como gosta, o outro aprende... É
o boca a boca do sexo gostoso”.
Imagem: Simon Plestenjak/UOL
"Na Índia, as mulheres são protagonistas do sexo"
Entender
a sexualidade feminina virou obsessão de Maisa, que passa seu pouco
tempo livre estudando outras culturas. A última empreitada dela foi uma
viagem para Índia e Dubai com o intuito de conversar com mulheres e
entender como é o sexo na casa delas. Spoiler: se surpreendeu.
“A
cultura desses países é machista, principalmente fora de casa. Em Dubai,
a mulher precisa andar atrás do homem, se cobrir dos pés à cabeça, isso
não é novidade. Mas, por baixo da burca, elas estão belíssimas, com
lingeries caras, rendadas e sexies. Eu pedi que um colega me
apresentasse a quatro mulheres casadas de cada um dos países para
entender como era a vida sexual delas -- em off, claro.
Na Índia,
elas me contaram que o sexo é um ritual, inclusive, para o marido. Elas
são as protagonistas, as que devem ser mimadas. Eles são românticos,
massageiam os pés, lavam com água morna, preparam bacias com flores.
O prazer delas é prioridade. Já em Dubai, os caras amam enfeitar as
esposas. As enchem de joias, lingeries bonitas… Me surpreendi”.
"Mais de 20 caras já broxaram comigo"
Aos
45 anos, com um namorado “que não ousaria me impedir de fazer o que
faço” e gozando sozinha várias vezes por “preguiça de ter que conversar
depois”, Maisa conta que já foi muito renegada por ser dona de sex shop.
"Os caras acham que eu sou 'fodona' na cama e ficam com medo".
“Muito homem já broxou comigo, eu diria que mais de 20. É um saco, e eu não passo pano. Broxou, me troco e vou embora.
Tenho que trabalhar, meu amor, não dá para esperar. Uma vez, um amigo
me disse que um colega dele estava a fim de mim. Perguntei: ‘Ué, por que
ele não me procura?’. O cara respondeu: ‘Ele disse que você deve
transar como ninguém e ele não daria conta’. Homem inseguro não sabe
lidar com mulher que ama a própria sexualidade”.
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